A saúde física sempre foi um assunto muito abordado nos esportes, considerado algo vital para os atletas de alto rendimento, porém nos últimos anos vem surgindo uma importante discussão acerca do bem estar mental desses esportistas. Na F1, a estreia do britânico Lando Norris, em 2019, marcou o início de um movimento mais efetivo de conscientização sobre a saúde emocional das pessoas.
O piloto trouxe o assunto em diversas entrevistas e, inclusive assumiu sofrer com problemas como depressão e ansiedade. Lando comentou sobre como o automobilismo tem uma imensa pressão externa e estresse que se unem as incertezas sobre o próprio futuro na categoria e o sentimento de insuficiência. Norris também menciona a comparação dentro do esporte, principalmente entre companheiros de equipe e o papel das redes sociais nesse aspecto.
A McLaren, também faz seu papel para promover o bem estar dos fãs: desde 2020, estão em parceria com a instituição britânica Mind. A equipe promoveu campanhas nesse quesito, com destaque para o GP de Eifel de 2020 que teve capacetes especiais para a dupla de pilotos e arrecadou cerca de 70 mil libras (em torno de R$ 491.000,00). Por sua vez, a própria Fórmula 1 também teve um papel importante durante o GP do México de 2019, que, pela iniciativa Movember (que promovia a saúde masculina), criou uma barbearia no circuito para ser um “refúgio masculino” e, com isso, trouxe à tona a história do ex assessor de imprensa da Williams que considerou tirar a própria vida devido à pressão do esporte.
Outros pilotos já falaram sobre o assunto: Lewis Hamilton disse sobre os dias em que odeia seu corpo e não tem motivação para treinar, além de comentar que tenta se cercar de pessoas positivas. O heptacampeão teve problemas depois do rompimento de relações com o pai em 2010, e segundo ele, lidar com as próprias questões auxiliou na retomada do contato. George Russell afirmou que a mente é a parte mais poderosa do corpo e que deve-se acabar com o tabu da saúde mental ser uma fraqueza, principalmente entre os homens. Ele ainda comparou visitar um psicólogo como ir a um dentista quando se tem dor de dente.
O alemão Sebastian Vettel reconheceu que esse tipo de saúde não é tão valorizado quanto a física, apesar de ser tão importante quanto ou até mais. Ele ainda menciona a hesitação em buscar ajuda para lidar com os problemas.
O chefe da octacampeã Mercedes, Toto Wolff, compartilhou que durante a pandemia de coronavírus teve momentos que ficou incerto sobre voltar para o ramo financeiro ou se deveria permanecer na F1. Ele contou que, na ocasião, a equipe o ofereceu todo o suporte e realmente “carregou a bola” por ele. O austríaco disse que as pessoas que têm papéis mais visíveis parecem ter a vida perfeita, mas que isso não passa de um mito. Além disso, Wolff afirmou que muitas vezes se sente deprimido e inapropriado, por isso visita o psiquiatra há 18 anos e já fez cerca de 500 horas de terapia, o que lhe auxilia a acessar um potencial inexplorado, e, que estando bem, ele cria um ambiente melhor. O empresário admirou as atitudes da campeã olímpica Simone Biles (que em 2021 se ausentou de eventos olímpicos para cuidar da própria saúde) e da tenista sete vezes vencedora de torneios Grand Slam, Naomi Osaka (que em junho se retirou do Roland Garros, a competição francesa, alegando precisar descansar por estar sofrendo por longos períodos de depressão.
As declarações de Lando Norris vieram, segundo ele, pois ele deseja ajudar os outros. O britânico afirmou: “se você está lutando com sua saúde mental agora, por favor, não lute sozinho”. Toto Wolff e Lewis Hamilton tocaram no ponto de perceber que as situações ruins são passageiras, e que as coisas vão melhorar.
Se você está em um momento ruim e precisa de ajuda, não hesite em buscá-la. No Brasil, o telefone do Centro de Valorização da Vida é 188 e diversos lugares oferecem sessões de terapia gratuitas ou a baixo custo. Procurar auxílio psicológico e psiquiátrico não é motivo para se envergonhar, mas sim para se orgulhar. Você passou por todos os piores dias da sua vida e ainda está aqui, por mais difícil que tenha sido. Esperamos que por meio desse texto possamos influenciar a todos a entenderem e aceitarem as próprias condições e dificuldades emocionais.
